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Mônica Salmaso em Natal no projeto Nação Potiguar

Não sei bem se é o método padrão de entrada no palco subir entrando-se pelo meio da plateia mas foi assim que Mônica Salmaso, Teco Cardoso e Nelson Ayres subiram ao palco da edição comemorativa dos 8 anos de existência do projeto – demonstrando simplicidade. Ao abrirem a apresentação com Melodia Sentimental, do nosso grande Villa, Salmaso, Cardoso e Ayres arrebataram o público, que, em absoluto silêncio, como há muito tempo não presenciava – e até me arrisco a dizer que talvez nunca tenha visto, em verdade -, absorvia a densa massa de conteúdo sonoro. Salmaso, ela própria, comentou acerca do fato da plateia da noite ter entrado num clima tão forte de troca de energia com os músicos.

Da riqueza dos timbres, o cuidado nos arranjos, a sensibilidade e aparente simplicidade da execução e da cumplicidade demonstrada pelo trio, podemos concluir seguramente que o espetáculo que ocorreu hoje está dentre aqueles que mais honram a música popular brasileira. O trio, que está em nova turnê após a turnê anterior “Noites de Gala, Samba na Rua”, turnê essa que contava com uma formação maior (o grupo Pau Brasil, que é formado adicionando-se três outros membros: Rodolfo Stroeter – baixo, Paulo Belinatti – violão, e Ricardo Mosca – bateria), como Mônica Salmaso explicou ao público, iniciou com a ideia de ser uma versão reduzida do “Noites” mas no decorrer dos ensaios veio a ser algo diferente. Do repertório original do “Noites”, apenas “Construção” e “Ciranda da Bailarina”, ambas de Chico, permaneceram. Todo o resto foi preenchido por novos arranjos de outro repertório. Dentre eles, um duo de sopro e piano, cujo título da obra não me recordo, mas de autoria de Nelson Ayres, e uma performance solo de Salmaso, que cantou “Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa – um dos pontos altos. Não faz muito sentido se falar em destaque em um espetáculo desta magnitude, visto que tudo está em um nível tão alto que soa até bobo colocar obras de arte para competirem entre si. Entretanto, muito provavelmente por ignorância deste que escreve, não pude deixar de me espantar positivamente com a belíssima composição de Nelson Ayres, “Noite”, cuja melodia Salmaso relatou ter ficado em sua cabeça durante semanas quando de ouvi-la pela primeira vez.

Acredito que estive diante de uma das performances mais belas que verei em minha vida. Não se confunda aqui com grandiosidade, grandiloquência ou qualquer outra noção mais cara à magnitude da coisa. O que vi hoje foi algo que transcende em muito a mera magnitude técnico-musical. Vi algo que estampa beleza em todos os níveis. O grau de consciência desses artistas é imenso e, a julgar pela que nos foi demonstrado, descer até o nível de detalhamento que eles desceram (ou subiram, melhor!) é mais do que uma escolha artístico-performática mas, acima de tudo, um ato de respeito à Música e à Cultura Brasileira. O canto de Mônica Salmaso, os sopros de Teco Cardoso e o percutir de notas do piano de Nelson Ayres estão carregados de zelo e beleza. O trabalho do trio merece a maior divulgação possível.

09/12/2009 at 2:37 am 1 comentário


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